Foi bom. Não posso negá-lo; não poderei nunca negar que
ainda hoje me faz parar no tempo quando a lembrança do olhar frio dela me
assalta; não poderei nunca negar que ainda hoje fico com pele de galinha quando
me lembro daquele pescoço fino, aqueles lábios grossos pintados num tom forte. Não
posso…
Depois… não gostei de os ver juntos. Não gostei de ver as mãos
dela a bater-lhe uma nem as dele nas mamas dela embora não lhe enchessem as
mãos nem a vê-los brincar com a língua um do outro nem sequer da hipótese que ela
lhe tivesse sequer a dar algum tipo de prazer nesse campo. Essa remota ideia ou
lógica possibilidade secou-me de uma forma tal qual aquela fruta delicada em cima do
chantillyn de um bolo cremoso com mais ar de cereja do que o seu sabor virado a
ginja selvagem.
A manhã rompia pelas persianas de palha e eu interrompi a
nossa aventura no sofá branco. Não houve stresses, curiosamente, dele nunca os esperei, talvez dela.
Ela afastou-se um perímetro aceitável e ele quis
acalmar-me e dedicou-me toda a sua atenção, todo o seu corpo, todo o seu desejo.
Gelei. Não me lembro de alguma vez ter sentido tanto frio. Perdi toda a
lubrificação que tinha e desde que estava com ele nunca tal coisa sucedera; as
coisas com ele fluem, nunca me senti obrigada a nada nem mecanizada. Gosto
sempre quando me diz que todas as vezes que nos damos um ao outro, todas essas
vezes, são todas elas diferentes.
Deixámo-la dormir connosco, na nossa cama, tomaria o pequeno-almoço
connosco, tomaria um banho e levá-la-íamos a casa.
Não preguei olho. Eram umas seis da manhã. Ficámos cada uma a
uma ponta da cama com ele no meio. Passei pelas brasas e esperei até clarear o
dia para me levantar. Abraçou-me como me abraça sempre e dormiu assim.
Mas naquele momento eu só queria estar sozinha e em qualquer
lado menos ali.
Fizemos amor na sala. Não a quis acordar embora eu achasse
que estava acordada e fui tomar um banho, preparei-nos o pequeno-almoço e
saímos os três para beber um café e deixá-la em casa.
1 comentário:
Oh...
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