Tudo começou numa saída à noite, apenas os dois, a um bar de
ambiente um pouco… inóspito, digamos. Começámos a noite com um brinde a nós –
como é corriqueiro nas nossas saídas a dois – com um shot, B52. É uma mistura
deliciosa de baileys com tijuana e o absinto é o causador da chama que as
envolve, que nos envolve. Deixa um sabor suave na boca, os lábios mais gulosos,
a alma quente e o corpo solto.
Ouve-se de tudo um
pouco e ao fim de uns copos qualquer ruído é óptimo para conquistar a pista e deixar
que as vibrações nos (des)controlem; penso que deve ser a sensação mais
parecida à de um Universo Paralelo.
Entre o som aleatório das músicas e a alternância das luzes Aqueles
olhos azuis enormes sombreados a negros e destacados do eyeliner; O pescoço branco
descoberto pelo corte do cabelo mais curto atrás que à frente; A boca de lábios
grossos delineados a marrom e pintados num baton cor uva ou sei lá assolou-me. “Vamos!".
Procurei o meu Don Juan
com o olhar. Estava encostado à parede, sorriu-me. Não sei se se deliciava com
aquela situação inesperada se tentava acalmar-me. Esquivei-me assim que pude
para a minha área de conforto – aquele metro quadrado junto daquele corpo que
eu conheço tão bem…
***
“Ontem à noite perguntaram por ti.”
Esbocei um sorriso quase inevitável e como se estivesse longe de saber quem teria sido... perguntei num tom ingenuamente falso:
“Quem?!”