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Espreitadelas no buraco da fechadura

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

jean pierre...

na janela entreaberta, pelas cortinas que se espreguiçam, a senhora Billie Holliday, a dançar nos meus ouvidos,
o livro aberto nas minhas mãos do Vargas, o céu cumplice comigo e ao mesmo tempo « o que estarás a pensar? a fazer? » e falo contigo nesta exclente tarde...

só falta uma gaivota num telhado e o gato no beiral com a língua de fora a provar da àgua fluvial; o gato preto da srª joaquina, a ver as meninas a bailar as ancas salientes dos corpetes e dos saiotes nas ruas dos pecados modernos, as artes, como lhe chamam agora. no tempo da srª joaquina não era nada assim. os véus tapavam a cara mas não o resto, ela própria confessava aos seus botões e o que havera feito Senhor! à beira daquele rio de amores, aquela praça de música e teatro e encanto! hum!! dizia ela levantando-se vagarosamente, cansada dos anos que se acumularam no corpo. as meninas cantam... o gato descera e enrolara-se nos seus pés envelhecidos e unhas besuntadas de verniz escarlate.

e a chuva começou a cair, os sons dos cadeirões que uma mão afasta, a meia lua do teu sorriso que me ilumina, que faço eu? que escrevo eu que apenas me apetece dançar à chuva e sorrir cantando. a cantar o teu nome pelo teu deserto, ver te com os cabelos molhados enquanto te seguras num poste de rua, uma voltinha, duas voltinhas,

....hum...que tarde.

e deixar-me afundar na tua areia movediça tão apetecível!

e as meninas vão descendo a calçada, sorrindo aos pintores promissores, os filhos de monet, de manet, degas, renoir, os atrevidos de picasso... ai a arte, a arte, a arte no corpo das meninas!... pensava o garçon, o mais impulsivo do grupo, jovem, com o sangue na guelra...
agarrou no cavalete, passou por elas a correr de cavelete abaixo do braço direito e a mão esquerda a segurar a boina e os pincéis e a tábua borrada de todas as cores quanto há no arco-íris! veio alojar-se mais abaixo, no edén das meninas atrevidas mas inocentes, florescendo duas rosetas encarnadas na face miudinha.
as coxas das mademoiselles, tão branquelas, tão redondas, tão apetitosas quanto as coxinhas de frango que a mamá preparava a jean pierre à ceia. "jean pierre vien manger!" gritava-lhe, ela, ao fundo da rua. e a sua grande incerteza - as coxas das mademoiselles ou as da mamá?! o pincel, erecto na sua mão de artista francês, tremia de vigor a querer esborratar aquela tela branca, já assim à semanas, sedenta de prazer, do deslize dos pêlos de marta que preparara pelos seus próprios dedos encardidos da tinta d'óleo, e a tela ali e as meninas passaram. a mamá fechara a porta e na rua subia um misto de odores magnifíques! oh! mon dieu! o cheirinho das coxinhas da mamá e o perfume da madame envolta nas suas peles de coelho selvagem... ah que selvagem deve ser aquela mulher por baixo do pó de arroz e do channel. oh mon dieu!...

quero cantar o teu nome , pelas praças desertas, pelas ruas apertadas como o retrato que me aperta e me embarga a memória. esta casa não é nada sem ti; sinto falta do teu perfume, sinto a falta das tuas gargalhadas, sinto a falta , quando me dizes « daqui a pouco»

"bonsoir jean pierre. avez-vous occupé?"
"madamme?!"

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